por vezes um herói faz-se a cantar
no espanto doce e leve
de iluminar a cidade
e recordar tempo à vida
em acordes de esperança
por vezes ele é a dança
é a razão encantada
de uma balada que abala
o torpor em contradança
por vezes ele é sorriso
ironia que desarma
o medo de arma em riste
sorriso que faz o triste
ser alegre de coragem
é a flauta encantada
é nau de outra viagem
que traz ao povo a alegria
de cantar em romaria
com bandeiras desfraldadas
bandeiras da paz - do pão
e do nome que ele tem
que um povo sem ter nome
pode bem morrer à fome
e há-de chamar-se Ninguém
cântico a Catarina
suor e sangue num grito
menina que o medo mata
e que o vermelho desata
nas papoilas da campina
ou lagos de breu no céu
bairro negro do menino
com olhos de estrela de alva
deixai-o que é pequenino
Zeca amigo está contigo
um povo desperdiçado
que se perde em triste fado
mas colhe em tua voz abrigo
seja a voz de quem trabalha
no som ritmado dos passos contra vampiros de palha
nascente em vila morena
que entre nós criou laços de saber quem mais ordena
de saber que vale a pena entrelaçar nossos braços
fazer da vida um poema
dourado em Maio maduro
dentro de um coração puro
cheio de vida para dar
... que por vezes um herói
também se faz a cantar.
- in Poemas de Menagem , de Jorge Castro
Nota dos editores do blogue:
Por razões técnicas, não nos foi possível manter o aspecto gráfico conforme o seu autor idealizou, pelo que pedimos a melhor compreensão dos leitores. Mesmo assim, colocamos em imagem digitalizada o poema escrito em papel, cujo aspecto revela as intenções estéticas do poeta quanto ao seu texto.
2 comentários:
Grande Mestre Jorge Castro!
Que bem que ele fica aqui (aliás, como em todo o lado).
Amigos,
O autor que sou eu recolhe, com agrado - e plena aceitação -, a cuidada explicação dada quanto à alteração da disposição gráfica do poema.
Valham as palavras, a sua intenção e intelegibilidade. Depois, que cada um as arrume a seu jeito.
Grato pela publicação.
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