quarta-feira, 21 de abril de 2010

"Juntos na construção de um novo mundo"

Fotos: Chico da Emilinha







“JUNTOS NA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO MUNDO”

INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DO PUZZLE
Dolce Vita
17/Abril/2010

Boa tarde a todos.
Para fazer a apresentação do trabalho cuja exposição hoje se inaugura impõe-se que brevemente vos fale dele enquanto parte integrante de um projecto maior lançado pelo Núcleo do Norte da Associação José Afonso.
Esta associação cultural e cívica, não confessional, tem como objectivo, entre outros, dar a conhecer a personalidade e o exemplo cívico de Zeca Afonso promovendo a difusão da sua obra. Tem-no feito empenhadamente das mais diversas formas e através de inúmeras iniciativas ao longo dos seus vinte e três anos de existência.

Concretamente referir-me-ei à mais recente, ao projecto promovido pela AJAnorte “80 anos de Zeca” .
Com este projecto pretende-se comemorar o octogésimo aniversário de Zeca Afonso, celebrando a sua vida, a sua obra e o seu exemplo de cidadania pela concretização de um ciclo de realizações de carácter multidisciplinar em todos os sectores da arte, da literatura, do debate de ideias e de outras áreas de trabalho e expressão, a desenvolver em estreita colaboração com entidades com as quais já teve acções comuns, que já conhecia pelo seu trabalho neste campo de intervenção, bem como com outros colectivos que têm vindo a aumentar a enorme lista de subscritores do MANIFESTO “80 anos de Zeca”.

Trata-se de um projecto aberto e dinâmico que entre 2 de Agosto de 2009 e 1 de Agosto de 2010 conta com centenas de iniciativas tanto em Portugal, quanto na Galiza.

Entre elas refiro uma banca com materiais alusivos ao Zeca, a edição de um CD com arranjos de três músicas suas, jantares animados por palavras e canções, tertúlias, depoimentos, tributos, concurso de artes plásticas, edição e reedição de livros, exposições, debates, sessões de poesia, de música e muitas muitas apresentações d’O Canto de Intervenção.
Tudo com o objectivo de que o legado de Zeca Afonso, completamente actual hoje como há quarenta anos, possa chegar a todas as classes sociais e a todas as gerações.
E por isto o envolvimento das escolas se torna parte fundamental neste processo.
Sabemos que a formação escolar consubstanciada nos programas e nos manuais que lhes dão suporte, na sua aparente neutralidade, são bem representativos do que o estado e a ideologia dominante pretende difundir entre os alunos.
Sabemos como isso pode condicionar e condiciona de facto as atitudes dos jovens, a forma competitiva da sua relação com os outros, as suas opiniões e as suas visões do mundo.
Nas escolas passa-se-lhes a mensagem de que a tecnologia é a solução para todos os problemas e ignora-se a necessidade de transformação das estruturas sociais e dos convencionalismos vigentes dos actuais processos económicos.
Com mapas e fronteiras transforma-se a história numa história dos estados e do poder em detrimento das histórias das culturas e das dinâmicas sociais.
Passa-se-lhes a noção linear da evolução com todas as virtudes da modernidade e omite-se o quanto ela tem gerado de barbárie.
Escondem-se os esquemas lucrativos do negócio das guerras e da indústria das armas, a repressão e a exploração económica, as mentiras e a manipulação mediática, o controlo dos cidadãos…
Em suma, nas escolas legitima-se um modo de vida completamente subjugado às realidades sociais do sistema económico dominante.
Por esta razão, com o projecto “JUNTOS NA CONSTRUÇÃO DE UM NOVO MUNDO” a AJA Norte e o SPN, em parceria, propuseram aos Educadores e Professores que a partir de um clima motivacional proporcionado pela audição das músicas do Zeca, da análise das suas líricas e de outros textos, criassem com os seus Alunos um espaço/tempo de discussão e reflexão crítica que tornassem evidentes temáticas tão importantes quanto
- a Liberdade
- a Dignidade do Ser Humano
- o Fim das Discriminações (de género/ raciais/ sexuais/ culturais/ religiosas/...)
- a Carta Universal dos Direitos Humanos
- o Respeito pelo Meio Ambiente
- a Justiça Social
- o 25 de Abril
e a relação destas com o que sabem do mundo em que vivemos.

Ora, é diante de um problema significativo que os estudantes são estimulados a compreendê-lo e a defrontar-se com várias interpretações e com pontos de vista diversos acerca de uma mesma questão.

São estas experiencias, sem barreiras ao dizível, que realmente contribuem para a formação dos alunos enquanto seres humanos, cidadãos de direito, conscientes desse direito e da responsabilidade que têm de participar activamente na construção de um novo mundo.

O resultado deste trabalho é este puzzle agora iniciado que traduz o sentir do que para os nossos alunos se constituiu como um mundo melhor.

É uma obra que contém a multiplicidade de sentidos que lhe é conferida pela condição de ser em simultâneo a expressão simbólica de emoções e sentimentos tanto de revolta e dor, quanto de resistência, de exigências, pedidos, chamamentos e também de alegria e de esperança num futuro melhor.

Exposta agora aos nossos olhares, apreciemo-la com a seriedade e o respeito que nos merece.

Obrigada.
Edite Cardoso

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