Boa noite a todos
Amigas e amigos de José Afonso
Antes de mais gostaria de deixar os nossos agradecimentos às seguintes entidades pelo seu apoio e participação nestes 3 dias de festa em Guimarães
OFICINA
Associação das Marchas Gualterianas
CICP
Gabinete de Imprensa de Guimarães
Museu Alberto Sampaio
Cineclube de Guimarães
Escola EB 2/3 Santos Simões
Cabe-me a mim a honra de abrir estes dias de festa do projecto 80 anos de Zeca e para tal começarei por fazer uma pequena contextualização do sentido do projecto, do caminho percorrido e deste fim de festa, que durará até 2ª feira, dia em que o Zeca faria 81 anos.
Este projecto nasceu de um sonho – nasceu mais precisamente daquele “sonho que comanda a vida”.
O Núcleo do Norte da Associação José Afonso sonhou um projecto para celebrar a vida, a obra e o exemplo cívico de José Afonso.
Mas não o quis, nem poderia, fazer sozinho.
Para tal, desafiou algumas dezenas de organizações a unirem-se num processo comum, onde todos pudessemos ter ideias e concretizá-las, onde todos pudessemos trabalhar livremente, de forma autónoma, fraterna e solidária.
De início, juntaram-se 30 organizações, que aceitaram e acarinharam esse sonho, assumiram-no e tornaram-no seu.
O trabalho foi ganhando corpo, entusiasmo e vitalidade, alargou-se a outros locais de norte a sul do país, foi abraçado também pela Galiza, e termina neste fim de semana com 91 entidades subscritoras.
Este projecto arrancou publicamente no dia 2 de Agosto de 2009, dia em que José Afonso faria 80 anos, prolongou-se por todo o ano, concretizando cerca de 90 iniciativas das mais diversas expressões - colóquios, debates, bancas de materiais, exposições documentais, de trabalhos de alunos das escolas, de artes plásticas, tertúlias, sessões de poesia, concertos, teatros, sessões de cinema, emissões de rádio, projectos colectivos como o enorme puzzle que ali temos exposto, pintado por alunos do ensino pré-primário e básico.
Aliás, uma parte marcante de todo este processo foi precisamente o trabalho que várias escolas desenvolveram com os seus alunos, apresentando-os ao Zeca e dando-lhes a conhecer o homem e a obra.
O Zeca é fruto do seu tempo - compreender verdadeiramente a sua obra implica conhecer o contexto económico, social e político que o moldou, e a impulsionou: os 48 anos de fascismo em Portugal, a prisão política, a tortura, o assassínio, a censura, a guerra colonial, a fome e a miséria,... mas também, o 25 de Abril, o MFA, a agitação social e cultural do PREC, as cooperativas, o trabalho colectivo, as campanhas de alfabetização, o 11 de Março... e o 25 de Novembro.... a entrada de Portugal na CEE e todas as convulsões que o Zeca e o mundo que o envolvia experimentaram.
Para compreender a sua obra, necessitamos de compreender o homem e a realidade que o lapidou.
Também nós somos fruto da realidade que nos envolve. E essa realidade inclui já a obra, a experiência de vida e o testemunho cívico de José Afonso que hoje celebramos.
Desenganem-se porém aqueles que pensem que ouvi-lo, cantá-lo ou celebrá-lo sejam actos de saudosismo, nostalgia ou passadismo. Esses não sabem nem sonham...
Não sabem nem sonham que celebra o Zeca quem tem sede do futuro.
Celebra o Zeca quem não perde nunca a esperança no Ser Humano e naquilo que ele é capaz de construir.
Celebra o Zeca aquele que, compreendendo e aprendendo com a experiência dos que nos precederam, projecta e luta por um mundo melhor, mais justo, mais solidário e mais fraterno. Celebra o Zeca aquele que teima em sonhar, o tal sonho que comanda a vida.
Aqui chegamos, ao fim de festa, e o nosso sonho já deixou de o ser – comandou a vida, e concretizou-se, transformou-se em realidade.
Este projecto tornou-se um pouco de todos os que se envolveram na criação, dinamização e animação de cada uma das suas iniciativas.
E nenhuma delas houve que cheirasse a resignação, comodismo ou apatia.
Pelo contrário, em todas elas esteve presente a denúncia da injustiça, a indignação perante pobreza, a fome, a guerra...
Em todas elas transmitimos a insubmissão perante todos os que nos tentam convencer que este é o fim da História.
Em todas elas encontrámos mais pessoas que também dizem “sim, é possível um mundo melhor”.
Em todas elas quisemos construir um cantinho de um mundo novo, sonhando que talvez ele se possa propagar.
E em todas elas se sentiu a presença dos cravos vermelhos de uma Primavera, que embora ainda apenas sonhada, pelas nossas mãos unidas, poderá um dia tornar-se vida.
Vamos celebrar a vida!