sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Para José Afonso

O canto que se erguia

na tua voz de vento

era de sangue e oiro

e um astro insubmisso

que era menino e homem

fulgurava nas águas

entre fogos silvestres.

Cantavas para todos

os acordes da terra,

os obscuros gritos

e os delírios e as fúrias

de uma revolta justa

contra eternos vampiros.

Que imensa a aventura

da luz por entre as sombras!

A vida convertia-se

num rio incandescente

e num prodígio branco

o canto sobre os barcos!

E o desejo tão fundo

centrava-se num ponto

em que atingia o uno

e a claridade intacta.

O canto era carícia

para uma ferida extrema

que era de todos nós

na angústia insustentável.

Mas ressurgia dela

a mais fina energia

ressuscitando o ser

em plenitude de água

e de um fogo amoroso.

É já manhã cantor

e o teu canto não cessa

onde não há a morte

e o coração começa.



António Ramos Rosa

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabens ao projecto 80 ANOS DE ZECA e a quem gere este "blog"